História e Actualidade (1) – As Misericórdias
“… Temos em Portugal uma instituição que nos honra, que deve ser enaltecida e invejada por todas as pessoas … que é a melhor que eu conheço … em nenhum outro país do Mundo é possível encontrar uma instituição filantrópica superior ou mesmo igual”
Almeida Garrett, “Discursos Parlamentares”, 1954, pag. 157
A primeira Misericórdia (de Lisboa, única pública e capaz de promover "jogos sociais") foi fundada a 15 de Agosto de 1498 pela Rainha portuguesa D. Leonor, irmã do Rei D. Manuel, quando este estava em missão. No fim do seu reinado já tinham sido criadas cerca de 80 misericórdias, o que é impressionante para uma altura sem os nossos hábitos de comunicação. Apesar de terem nascido de um desejo real (aumentar o raio de influência e responder a flagelos sociais da época), a população portuguesa foi determinante no seu estabelecimento (quase todas as cidades do país têm uma misericórdia) como meio de conseguir alguns emolumentos do Rei. Apesar da natureza das Misericórdias ser laica, rapidamente foi associada à Igreja Católica. Este equívoco, que se deveu numa primeira fase à natureza religiosa da sociedade portuguesa dos séculos XV e XVI, e numa segunda, à delegação corporativa do Estado Novo, trouxe-lhes vários dissabores.
As Misericórdias desempenharam e desempenham várias funções “sociais”. Por exemplo a redenção dos presos, o enterro dos mortos, o apoio às vítimas da lepra e outras enfermidades em geral, o abrigo aos peregrinos, a mediação de conflitos ou a garantia do dote de casamento a donzelas sem família fazem parte das chamadas "Obras de Misericórdia". Entre as actuais respostas sociais encontram-se a organização de creches, jardins-de-infância, serviços domiciliários ou lares de idosos; o combate de problemas relacionados com a toxicodependência, o alcoolismo e as doenças infecto-contagiosas; ou a preservação cultural e patrimonial do país.
A história destas instituições é feita de sucessivos períodos de altos e baixos. Depois de 1498, o movimento foi rapidamente disseminado por todo o país e pelas colónias como propagação do humanitarismo português. Com a predominância liberal e a subsequente laicização em 1834, as misericórdias sofrem um primeiro abalo de onde recuperam apenas com a chegada do Estado Novo em 1928. Depois do 25 de Abril de 1974 outro momento difícil começa, quando a gestão do seu mais importante, tradicional e histórico património é nacionalizado por um único despacho – os hospitais.
Curiosidade Portuense: A Santa Casa da Misericórdia do Porto é dona de cerca de 1/3 da cidade e a mais rica do país. Entre esse património riquíssimo e vastíssimo consta o hospital da Prelada e o parque de campismo (propriedade e gestão do equipamento) ou o Hospital de Santo António (propriedade).
1 Comments:
De santas não têm nada. E Misericórdia nunca a vi. :-)
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